Membros da família e funcionários do comerciante Eraldo Melhado, de 59 anos, fizeram um teste para coronavírus depois que ele estava em suspeita e teve a contaminação confirmada. Morador de Alvorada do Sul, ele é proprietário de uma conhecida loja em Bela Vista do Paraíso. O caso gerou grande repercussão na cidade, e até mesmo mensagens desrespeitosas ou que propagavam mentiras.
Em entrevista, Eliana Melhado, de 45 anos, contou que não falou pessoalmente com o irmão desde a véspera do Dia das Mães. Soube, em contato por telefone, que ele teve febre e procurou o serviço médico em Alvorada do Sul. Chegou a fazer o teste rápido, que resultou negativo para coronavírus. Logo depois, procurou um hospital de Londrina, onde teve o diagnóstico de pneumonia. Por causa dos sintomas, fez outro teste, cujo resultado positivo saiu nesta quinta-feira (21).
HISTÓRICO
O mesmo diagnóstico de pneumonia e posterior confirmação de Covid-19 aconteceu com o sogro de Eraldo, de 90 anos. Ele chegou do Pará junto com a esposa, que tem mais de 80 anos, porque, segundo Eliana, tinham o costume de vir para a região pelo menos duas vezes por ano, para se consultarem com médicos de Londrina. Teria sido através deles o contágio do comerciante. No dia das mães, almoçaram juntos. A família afirma que, ao contrário dos boatos que circularam, não houve festa, apenas um almoço normal com os dois casais, na cidade vizinha. “Não está em uma situação de fazer festa”, disse Eliana.
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Por causa das suspeitas, quatro funcionárias da loja, uma da residência e três familiares fizeram testes para coronavírus, pagos pela empresa. Segundo Leonardo, filho do comerciante, foi utilizado o mesmo tipo de teste que já havia detectado a Covid-19 em sua avó, sogra de Eraldo, que era assintomática. Todos os oito testes retornaram negativos, como mostram os documentos emitidos pelo laboratório. Os resultados saíram nesta quinta e sexta-feira.
Já os pais do comerciante, que moram nos fundos da loja, não foram testados. Com idade avançada, sem sintomas e em isolamento a quase 100 dias, a família entendeu que seria um risco maior leva-los até Londrina para fazerem os testes. “Como o nosso deu negativo, eu acho que não convém tirar eles de casa, correndo esse risco”, afirmou Eliana.
REPERCUSSÃO
Até que o resultado dos exames do comerciante saísse, os boatos circularam pelas redes sociais. Algumas vinham de pessoas desconfiadas, sem saber direito a dimensão do caso. Mas o que deixou indignados os familiares e funcionários foram áudios e comentários que consideraram maldosos, alguns com desrespeito, mentiras e até deboche. “Antes mesmo de sair o resultado do Eraldo estavam postando coisas horríveis. Pra gente isso não é bom, escutar isso”, afirmou Eliana. Leonardo, o filho, pensa em procurar a Justiça contra aqueles que propagam essas mensagens.
No meio disso tudo, eles evitam passar esse tipo de informação para Eraldo. Dizem que ele era quem mais cobrava em relação às medidas de prevenção. Cobrava o uso de álcool nos balcões após os atendimentos, e nas mãos, após pegar em dinheiro. Das funcionárias, exigia que trocassem as máscaras e ficassem longe umas das outras, segundo elas. “Ele brigou comigo porque eu não troquei a máscara”, disse uma delas. Segundo a família, ele também achava ruim com os pais quando eles apareciam na porta dos fundos da loja, que dá acesso à casa.
As três funcionárias que estavam no estabelecimento no momento da entrevista também se mostraram indignadas com a repercussão das mensagens. “Eu tive que desligar o celular porque eu não estava dando conta de mensagem em cima de mensagem toda hora”, contou uma delas. “Isso mexe com o psicológico da gente. Sem contar que a gente precisa da comissão, precisa do cliente. E cadê o cliente?”, questionou outra.
Chamados de irresponsáveis e outros termos que preferiram não repetir, os familiares se disseram magoados. Afirmam que a loja, que existe há 44 anos, jamais estaria aberta se houvesse suspeitas ou sintomas. Disseram que tomam todos os cuidados recomendados e que foram transparentes com clientes e amigos que entraram em contato para falar sobre a situação.
“Todo mundo está exposto a isso. Infelizmente foi com a gente que aconteceu, mas poderia ter sido com qualquer um. Será que eles gostariam que expusessem eles desse jeito?”, concluiu Eliana.