Altas taxas de financiamento impedem renovação da frota e prejudicam transportadores

Foto: Fabio Scremin
Mesmo com a Selic alcançando seu menor nível histórico, as taxas praticadas atualmente estão mais altas do que em 2013. Foto: Fabio Scremin. 19/12/17.
Da Agência CNT

A Selic (taxa básica de juros) alcançou o seu menor patamar da história – 6,5% ao ano. Os juros sobre o crédito para a aquisição de veículos, porém, não seguem a trajetória de queda, o que prejudica transportadores que dependem dos financiamentos para investir na modernização e ampliação da frota. Segundo o boletim Economia em Foco, divulgado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) no fim de abril, as taxas médias para financiamentos, hoje, estão mais altas do que estavam em 2013, quando a Selic era de 7,25% ao ano.

No começo de 2013, o financiamento de veículos novos para pessoas jurídicas tinha juros médios de 16,41%; no primeiro bimestre de 2018, ficou em 16,44%. Para pessoas físicas, a diferença é ainda maior: a taxa média, que era de 20,32% em 2013, chegou a 22,60% neste ano.

Para o diretor de economia da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), Miguel José Ribeiro de Oliveira, as taxas de juros finais estão em tendência de queda, mas ainda estão longe dos patamares anteriores à crise econômica iniciada há cinco anos.

[À época] houve uma elevação substancial dos juros e, por conta da recessão, os bancos foram muito pessimistas em função do desemprego e subiram muito as taxas.”

Segundo ele, a inadimplência, mesmo em trajetória de queda, ainda preocupa. “É claro que não é algo que justifique esse patamar, mas o fato é que os juros subiram muito e, agora, estão caindo a conta-gotas.”

Vale lembrar que, no primeiro bimestre de 2018, do saldo total de crédito disponível para as empresas para aquisição de veículos, 5,1% estavam atrasados na média de janeiro e fevereiro contra 8,6% cinco anos atrás. Já para pessoas físicas, 6,6% estavam com atraso entre 15 e 90 dias, enquanto, no primeiro trimestre de 2013, esse valor era de 8,6%.

Além disso, no primeiro trimestre deste ano, do saldo total de crédito para pessoas jurídicas para aquisição de veículos, 2,7% estavam inadimplentes, contra 4,8% em 2013. Em relação ao crédito tomado pelas pessoas físicas, a inadimplência registrou 3,7% na média de janeiro a março de 2018. No primeiro trimestre de 2013, ela era de 6,4%.

Mesmo com a redução dos atrasos dos pagamentos e da inadimplência, os transportadores e os brasileiros de maneira geral estão pagando mais caro para adquirirem veículos hoje e, diante desse cenário, o questionamento que fica é: por que as taxas não caem? Oliveira pondera que essa relação não diz respeito apenas à Selic, já que ela é apenas um dos itens que compõem o custo final.

Quando você vai fazer um financiamento de uma casa, de uma geladeira ou de um automóvel, existe uma taxa de juros anunciada, por exemplo, de 2% ao mês. Dentro dessa taxa, estão embutidos cinco grupos de despesa: a Selic, impostos compulsórios, despesas administrativas (custos de empregado, de processos, agências), o risco (a previsão de perda) e a margem da empresa”, explica.

INCERTEZA

Outro fator que dificulta esse processo de queda é a concentração de crédito registrada no Brasil. Os cinco principais bancos detêm quase 80% do volume de crédito do país. Quem descreve esse quadro é o economista da LCA Consultores, Fernando Sampaio, segundo o qual, a falta de competição também ajuda a explicar por que as taxas de juros não são reduzidas mais fortemente.

A impressão que se dá é a de que, não só no segmento automotivo, mas de uma forma geral, a cautela dos bancos está grande em função da incerteza em relação ao médio prazo. No curto prazo, neste ano, digamos, existe um pouquinho de pressão no câmbio, o que pode atrapalhar os custos, mas isso não é algo tão dramático. O que complica é a incerteza quanto ao que acontecerá na economia no ano que vem. A incerteza política vira incerteza econômica. Portanto, há menos ímpeto para assumir riscos.”

Ele avalia que o motivo da inadimplência está perdendo força e que o grande receio dos bancos é um repique da inadimplência no futuro próximo “em função de um cenário de conturbação política”.