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Muita gente reconhece, quando vê passar pelas ruas, a chamada folia de reis. Os integrantes com roupas coloridas, os bastiões levando a bandeira e os cânticos tão característicos. De tradição católica, as folias foram trazidas pelos portugueses e se espalharam pelo Brasil. Em Bela Vista do Paraíso elas possuem mais de meio século de existência. Atualmente, a companhia de reis Estrela Dalva, única do município, continua realizando visitas às residências, levando o anúncio do nascimento do Menino Jesus, como reza a narrativa cristã.
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“Boa noite, moradooora, oiiaiá…”
A passagem da companhia de reis pelas residências agrada e emociona muitos fiéis, além de atrair vizinhos. A bandeira, guardada pelos Bastiões, é levada nos cômodos da casa como uma forma de abençoar os lares e seus moradores. Os Embaixadores puxam os coros tradicionais, ou improvisam outros, acompanhados pelos cantadores, que tocam seus instrumentos de corda ou de percussão.
Um dos embaixadores da Estrela Dalva é Braz Ferreira. Com 74 anos, ele conta que participa de folias de reis há pelo menos 50 anos, desde quando acompanhava o seu pai. Da tradição familiar, ele carrega também a crença nos reis magos, que expressou durante visita da companhia na sexta-feira (4) a um amigo doente que costumava participar do grupo. “Viemos visitar o nosso amigo João Miranda, que puxava a cantoria, mas não canta mais. Ele pediu uma visita para ser curado. Então a gente veio cantar. Ele vai ser curado. Os três reis vão curar ele”, declarou.
Após as visitas, a companhia recebe doações de alimentos ou dinheiro para realizar a festa. Organizada pelo festeiro Milton Barbosa, a celebração aconteceu no domingo (6), no Centro Cultural, em Santa Margarida. Na mesma data, é comemorado o Dia de Reis.
“Cada um trouxe um presente…”
Teria sido no dia 25 de dezembro, quando nasceu o filho de Deus, que a Estrela Dalva sinalizou para os três Reis Magos. Começava, então, a jornada de 12 dias durante os quais Melquior, Baltasar e Gaspar se dirigiriam à manjedoura para visitar o Menino Jesus. A atuação das companhias segue esta trajetória e termina no dia 6 de janeiro, quando os reis teriam chegado no seu destino final.
Alcebíades Bíscaro, de 75 anos, participava das companhias em Bela Vista desde os 7 anos, mas parou devido a problemas de saúde na família. Atento aos detalhes da tradição, ele ensina: “O certo é sair à meia noite do dia 25 de dezembro. E tem que terminar ao meio dia do dia 6. Os Bastiões são os protetores da bandeira. Se alguém colocar alguma coisa na bandeira – uma rosa, um cordão – eles têm que avisar o Embaixador, para ele agradecer ao morador”.
Apesar de todas as décadas de tradição na cidade, o perfil das folias de reis foram mudando ao longo dos anos. Antigamente, havia outras companhias no município. Com a população concentrada nas áreas rurais, os grupos iam pelas fazendas, onde se aglomeravam os moradores. Atualmente, a maior parte dos participantes trabalha durante o dia e faz as visitas à noite. Mas antes não era assim. A folia durava dias e noites ininterruptas, com os participantes se revesando.
Alcebíades conta que a importância da folia não estava apenas no lado religioso, mas também cultural. “Tinham embaixadores muito bons. Eles cantavam todos no mesmo tom de voz, sabiam puxar o coro, era bonito de se ver. Era ensaiado”, lembra.
Segundo ele, muitas pessoas perderam o interesse pelas folias, que já não têm a dimensão que tinham. “Antes a gente passava nas fazendas e os fazendeiros doavam até uma leitoa inteira. Nas casas, pelo menos uma galinha a gente ganhava. Fazia uma festa grande. Hoje em dia não dá mais. Nem todo mundo consegue ajudar e muita gente não se interessa. Aí não dá pra fazer uma grande festa”, relata.
“Você fica aí com Deus, aoilarai, nós ‘vai’ com Nossa Senhora…”
Agora, o desafio do grupo é manter viva a tradição, mesmo que em tamanho menor. Muitos integrantes da velha guarda continuam atuando, mas alguns enfrentam problemas e não conseguem fazer parte das companhias. Zacarias Rafael, de 59 anos, era um dos Bastiões e começou a participar desde pequeno, por influência do pai. “Com 15 anos eu já me vestia. Todo mundo participava”, conta. Ele não atua diretamente da companhia, mas mesmo com um problema na perda, acompanha a folia durante as visitas.
Diante disso, a estratégia é incentivar os mais novos. Na Estrela Dalva, têm jovens na percussão e como Bastiões, um deles, uma criança. “Tem que continuar fazendo, pra não deixar acabar”, diz Alcebíades. O Embaixador Braz Ferreira, “decano” do grupo, tem noção disso. “Eu estou incentivando o Edevandir [Corrêa Farias], pra ele continuar como embaixador”, concluiu.