O Ministério Público Federal no Paraná (MPF), a Polícia Federal (PF) e a Receita Federal revelaram, nesta terça-feira (11), que várias empresas com sede no Paraná estão sendo investigadas por suspeita de intermediar o pagamento de propina a agentes do governo paranaense que beneficiaram a Odebrecht na licitação que escolheu a empresa responsável por duplicar e explorar a rodovia estadual PR-323, obra orçada, no início de 2014, em R$ 7,2 bilhões.
“Há várias empresas sendo investigadas por movimentações financeiras significativas”, declarou a jornalistas o delegado federal regional de Combate ao Crime Organizado, Igor Mário de Paula. “Uma vez que houve pagamentos saindo [da Odebrecht], é necessário investigar se esses valores eventualmente ingressaram em algum grupo empresarial, qual a destinação dada a estas quantias”, acrescentou o delegado, referindo-se à forma como, segundo as investigações, operavam os suspeitos de participação no esquema de corrupção passiva, ativa, fraude à licitação e lavagem de dinheiro.
O procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima fez questão de destacar que a Operação Piloto, deflagrada esta manhã como um desdobramento da Lava Jato, apura os crimes de corrupção e o enriquecimento ilícito de agentes públicos, e não o financiamento ilegal de campanhas eleitorais, a chamada Caixa 2.
“O que investigamos é como a política é financiada no Brasil através de benefícios dados [a empresários] em troca de doações eleitorais ou para o enriquecimento pessoal”, disse Lima, dizendo que os fatos que estão vindo à tona no Paraná se repetem por todo o país. “Não faz diferença entre governos federal, estadual ou municipal. Não podemos dizer que o Paraná é diferente do que já foi descoberto em todo o Brasil. Outras operações desenvolvidas pelo Ministério Público estadual demonstram que este tipo de esquema já existia no estado”, acrescentou o procurador.
No último dia 5, a força-tarefa Lava Jato do MPF no Paraná denunciou 11 pessoas acusadas de desviar dinheiro público da obra de duplicação da rodovia PR-323. Entre elas, o ex-governador Beto Richa (PSDB); seu ex-chefe de gabinete, Deonilson Roldo, e o empresário Jorge Theodócio Atherino, apontado como “operador financeiro” do esquema. Roldo e Atherino foram presos hoje, na Operação Piloto, porque, segundo o procurador da República, Diogo Castor de Mattos, “novas evidências demonstraram que os dois continuavam atuando em atividades suspeitas”. Richa também foi detido, mas em outra operação, a Radiopatrulha, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Paraná (MP-PR).
Ainda segundo o delegado federal Igor Mário de Paula, as provas já colhidas, incluindo depoimento de colaboradores, apontam que ao menos R$ 3,5 milhões em propina foram entregues, em dinheiro vivo, em endereços indicados por Atherino, entre os meses de setembro e outubro de 2014. De acordo com o MPF, foram cinco entregas em um endereço de São Paulo ligado à sogra do empresário.
Quebra de sigilos
O auditor-fiscal Roberto Leonel Oliveira Lima confirmou a quebra dos sigilos fiscal e bancário de investigados e de empresas ligadas a eles. Segundo ele, já existem “indícios reais” de crescimento patrimonial injustificado e de movimentações financeiras incompatíveis, tanto de pessoas físicas, quanto jurídicas.
“A Receita Federal está acompanhando essas investigações. Algumas diligências fiscais estão em andamento, outras serão executadas após a análise dos documentos apreendidos hoje”, antecipou Lima, revelando que levantou suspeitas o fato de alguns dos investigados terem ligações com grandes empreendimentos imobiliários.
“Imóveis rurais eram adquiridos e imediatamente transformados em imóveis urbanos, por meio de decretos municipais [que alteravam à destinação de determinadas regiões]. E então era feito um loteamento habitacional ou então os imóveis eram transformados em industriais”, acrescentou Oliveira.