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Em Bela Vista, ex-ministra fala sobre a campanha de Haddad e de Bolsonaro

Ex-ministra do Desenvolvimento e Combate à Fome, a londrinense Márcia Lopes esteve em Bela Vista do Paraíso no sábado (20). Ela é assistente social formada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), já foi secretária municipal e vereadora pelo Partido dos Trabalhadores (PT), no qual é filiada desde 1982. Atualmente, ela se afastou do trabalho para atuar na campanha do candidato Fernando Haddad (PT). Após reunião no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bela Vista do Paraíso (que também apoia o petista), ela falou com exclusividade ao Telégrafo sobre a situação atual do partido, da campanha de Haddad e do adversário, Jair Bolsonaro (PSL).

Nas votações, o Paraná costuma ter um perfil mais à direita, geralmente a esquerda não tem desempenho tão bom. Como você avalia a situação do PT nesse cenário?

Na verdade essa tendência é mais regional. A gente sabe que o sul do Brasil tem uma história de mais tradição, de mais conservadorismo. Onde tem a posse pela terra de grandes fazendeiros, de grandes latifundiários. Então a agricultura acabou sendo determinante nesse processo. Porque nós vivemos um processo de luta de classes e isso é permanente entre os poderosos, as elites, os donos do capital e os trabalhadores.

E o paraná, como um estado de agricultura forte, toda essa ideologia dos ruralistas, dos patrões, dos donos de engenho, desde aquela época, ela veio se fazendo. E houve um processo migratório de trabalhadores de outras regiões e se subordinaram às regra do mando do patrão.

Mas claro, nós temos também uma esquerda importante, intelectuais, sindicatos, uma organização de trabalhadores, o próprio MST, que tem resistência, um processo da própria igreja, desde a teologia da libertação, das comunidades de base. Então é sempre um pêndulo, em alguns períodos a direita cresce mais, em outros a esquerda, e essa é a luta permanente.

Márcia deu a entrevista após reunião com apoiadores de Haddad. Foto: Filipe Muniz

Um fator importante nos municípios é que geralmente os deputados que mandam emendas parlamentares costumam receber apoio dos prefeitos e vereadores. O PT não tem muitos parlamentares na Assembléia Estadual, para enviar verbas. Como fazer para conseguir apoio nos municípios?

Nós vivemos um período na década de 70 com a emergência dos movimentos sociais, que houve um trabalho de base. Eu sempre participei da Igreja Católica e a gente fazia reunião nos bairros e nas casas das pessoas.

Nós tínhamos uma organização de base, com os sindicatos, as associações de moradores… Então mesmo que a gente tivesse uma mando político, pelas emendas, ou mesmo compras de votos – nós tínhamos essa base. E isso nós fomos perdendo.

Fomos ocupando outros espaços, inclusive mandatos e isso acabou sendo perdido. Acho que essa é uma das grandes autocríticas que não só o PT faz, mas a esquerda e os movimentos sociais de esquerda também.

Nesse sentido, o PT acabou perdendo um pouco daquele apoio que tinha durante o governo Lula e começo do governo Dilma. Quais outras autocríticas o partido faz?

É porque o PT nasceu como um partido de base, um partido de oposição, de vanguarda, que estudou o capitalismo e as formas de explorações. Estudou as leis. Foi um partido que elaborou muito, produziu textos, editou livros. Mas quando o partido começa a ganhar as eleições, para vereador, prefeito, governador, depois para deputado e depois para presidente, nós nos tornamos um partido de massa.

Quando fomos ganhando as eleições, para ter governabilidade, a gente foi se juntando a outros partidos, às vezes até de centro ou direita e isso acabou tirando um pouco da identidade. Fora que pessoas, às vezes inescrupulosas, erraram mesmo. Mas isso é o mínimo, felizmente. Os rankings mostram que o partido é o menos corrupto.

A gente não pode se conformar, temos que lutar muito para isso acabar, no Brasil inteiro. Mas a sociedade tem parte nisso. Porque da multa de trânsito que você tenta burlar, até não pagar imposto de renda, não ser correto com seu empregado… Tudo isso vale como perfil, caráter, honestidade. Então esse é um problema que está na sociedade. Porque os políticos não caem do céu.

Ex-ministra avalia que o PT acabou perdendo as bases sociais que tinham. Foto: Filipe Muniz

Pelos números do resultado do primeiro turno, nota-se que muita gente que já votou no PT agora migrou para o Bolsonaro. Na sua opinião, por que isso aconteceu?

O Bolsonaro foi se preparando para ganhar essa massa da sociedade e com um discurso que é conservador, porque a sociedade brasileira é conservadora de modo geral. A gente luta contra a mídia oficial o tempo todo. No capitalismo, a gente luta contra a mídia oficial, que estimula que você discrimine, que você seja consumista, não tenha solidariedade. E isso é um discurso que de um lado o Bolsonaro ganhou voto falando isso – da repressão, da mulher, do machismo – e de outro lado, encontrou um lugar vazio, porque o Lula não estava ali, para falar, para dar a mensagem.

Mas eu acho que o Haddad está fazendo isso muito bem, porque é uma pessoa muito preparada, verdadeira, e não consegue ter – e nem nós queremos que ele tenha – o discurso mentiroso e de enganação que o Bolsonaro tem.

Porque primeiro o Bolsonaro falou contra o Bolsa Família, contra os negros, contra as mulheres, contras as cotas e bolsas.. E agora está falando tudo o contrário. Então infelizmente é uma campanha de mentira que o adversário está fazendo. Mas tenho certeza que a máscara vai cair e as pessoas vão perceber a ameaça que é o Bolsonaro como presidente do Brasil. Porque ele não é uma pessoa preparada. Ele é uma pessoa violenta, vingativa, e não é disso que o Brasil precisa.

Os resultados do primeiro turno mostraram também um grande desejo de mudança das pessoas. A Dilma perdeu em Minas gerais, o Suplicy em São Paulo. Já o PSL, que era pequeno, conseguiu uma bancada grande. Como o PT pode responder a esse desejo de mudança?

Mesmo com todo esse bombardeio contra o PT, o partido fez a maior bancada na Câmara Federal. E alguns como Dilma, Suplicy e Tião Viana não foram eleitos, porque as pessoas querem a novidade. E também por isso, votam no Bolsonaro de forma cega. Porque “é o novo, vamos experimentar”. Isso faz parte da própria cultura do brasileiro: “vamos apostar no novo”.

As pessoas gostam disso, querem trocar. Só que a gente tem que saber que não estamos trocando de roupa. Não é um sapato novo, uma roupa, uma blusa. Estamos falando da política brasileira, de gente que vai comandar o Brasil. E isso é muito sério.

Tomara que quem substituiu esses que perderam a eleição honrem o cargo deles. Mas também isso exige de nós uma paixão pela política. Porque a gente elege e daqui a dois meses não sabe em quem votou. Na cidade, a população precisa ir acompanhar o que os vereadores estão votando, porque é isso que muda a política.

Para Márcia Lopes, Bolsonaro se preparou durante anos apara ganhar apoio das massas. Foto: Filipe Muniz

O envolvimento do ex-presidente Lula nessa campanha – levando a candidatura até o limite, com o Haddad indo sempre visitar – você acha que foi positiva, ou foi um desgaste que poderia ter sido evitado?

Foi necessário. Porque de fato não há até hoje nenhuma prova contra lula. Então todo mundo sabe que o lula é um preso político. Que ele está lá e, um mês antes do registro, autoridades falaram que se ele não fosse candidato seria solto. Então isso está escancarado. Ele e o partido acreditaram que ele poderia sair e ser candidato. E isso é legítimo. É direito dele. Mas havia uma legitimidade da candidatura, tanto é que ele ganharia no primeiro turno. Agora, posteriormente o Lula chamou o Haddad e falou: eu vou ficar aqui e agora vocês tem que fazer a campanha e se construir enquanto candidato. E de fato ele construiu, em um mês e pouco. Então ele está indo muito bem e é por isso que a direita fica indignada. Porque agora não é PT contra PSL, são dois projetos de nação.

Em relação à situação de Bolsonaro e Haddad nas pesquisas, ainda dá para ter esperança?

Claro. Nós estamos virando e vamos virar. O Haddad já cresceu na pesquisa Vox Poppuli e nós temos massa para ir para a rua, nós temos militância, gente que não é paga para fazer campanha e é isso que vale. Claro que estamos jogando com quem está jogando sujo do outro lado. Não são as mesmas armas. A gente usa a arma do diálogo, da paz, do convencimento, e os outros usam os fakes todos, as mentiras. Isso é uma tristeza.

O que falam sobre aborto, Kit Gay, Venezuela é uma grande mentira. O PT já ficou 14 anos no poder e não fez nada disso.

Ao contrário, nesses 14 anos ele criou vagas nas universidades, deu emprego, melhorou salário, ampliou Bolsa Família. Então contra fatos não há argumento.

Na opinião da londrinense, Haddad é o candidato mais preparado . Foto: Filipe Muniz

Quais instruções o partido está dando aos militante nessa reta final de campanha?

É voto a voto. Conversar com as pessoas, virar o voto nulo, o voto em branco, o das pessoas que estava iludidas com o outro candidato. Vamos fazer essa campanha. As pessoas estão indo de casa em casa.

No caso de Haddad não ganhar, como fica a oposição do PT no congresso? É uma oportunidade de voltar às origens? Existe alguma discussão em relação a isso?

Não, não existe porque vamos ganhar. Mas mesmo ganhando, não vai ser fácil. Mesmo o Haddad sendo presidente, nós vamos dialogar, fazer uma revisão, uma reflexão sobre nosso projetos e como fortalecer a base da população… Agora, caso [perca] – porque em eleição a gente ganha ou perde – vamos estar sempre prontos para recomeçar, resistir. Nós somos contra tudo aquilo que tire direitos da população. Então nós vamos continuar resistindo sempre e aprimorando toda a ação parlamentar dos nossos deputados, senadores e governadores.


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Filipe Muniz

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