Com um enredo que buscou desmistificar a figura de Exu, divindade das religiões de matriz africana, a Acadêmicos do Grande Rio conquistou seu primeiro título no Carnaval carioca do Grupo Especial. Em uma das alas, a escola lembrou a arte de Jardalina, artista muito conhecida em Bela Vista do Paraíso, onde morou.
A ala 27 da Grande Rio foi chamada de “O Bailado de Jardelina com Exu”. Na apresentação do enredo, Jardelina é citada entre outras figuras populares como Estamira, retratada em um conhecido documentário e tema da ala 29 da escola.
Os carnavalescos lembraram que Jardalina nasceu em Sergipe e narrava histórias fantásticas que misturavam Deus, Jesus Cristo, Nossa Senhora, Pedro Álvares Cabral, Virgulino Lampião e Exu.
A ficha técnica diz que Jarda, como era conhecida, produzia arte performática, entre a “loucura” e profundas reflexões. Matéria da revista Marie Claire sobre a artista diz que ela fazia “um trabalho que só tem paralelo com o do artista brasileiro Bispo do Rosário, que foi aclamado pela crítica e expôs na Bienal de Veneza depois de passar 50 anos num manicômio”.
“Lavradora e costureira, com uma vida marcada por migrações e tragédias, [Jarda] contava que aprendeu a costurar desenvolvendo vestidos para bonecas. A paixão pelas agulhas a levou a criar peças maiores, para serem vestidas por ela mesma. As roupas traduziam parte de sua reflexão sobre o mundo e o estado de falência da sociedade contemporânea” diz a ficha técnica da Grande Rio.
Jardelina se dizia uma vidente. Criada na Igreja Católica, ela afirmava viver uma relação intensa com Exus e Pombagiras, segundo a ficha técnica da escola. Em um documentário, Jarda aparece com uma capa vermelha adornada com pontos de umbanda. Para “lidar com Exu”, Jarda misturava roupas masculinas e femininas: “Quando o Exu é macho eu pinto o bigode.”
No desfile da Grande Rio, os carnavalescos imaginaram, nessa ala, um poético bailado entre a “Guardiã do planeta” Jardelina e o “Mensageiro dos deuses” (Exu), para questionar qual é o limite da razão humana.
Há quase 30 anos no Grupo Especial, a Grande Rio chegou perto de vencer quatro vezes. Após seu desfile, na madrugada de domingo (24), a escola já era apontada como uma das favoritas.
“Exu não é diabo. A maioria das pessoas não sabe o que realmente é o Exu, não estudou o Exu”, explica o zelador espiritual Danilo de Oxóssi. “Exu é quem abre os caminhos da gente, é quem traz a prosperidade, quem traz a fartura para a sua casa. Todo mundo cultua Exu na África, pois Exu é um guardião de todos os orixás. Ele é o guardião da gente”, explicou.
Com o enredo “Fala, Majeté! Sete chaves de Exu”, a Grande Rio obteve 269,9 pontos na apuração que ocorreu nesta terça-feira (26). Em oito dos nove quesitos, a escola gabaritou; teve nota 29,9 apenas no quesito samba-enredo (ouça aqui).
O segundo lugar ficou com a Beija-Flor (269,6 pontos), seguida pela Viradouro (269,5 pontos), a campeão do último Carnaval do Rio de Janeiro. Já a São Clemente, que fez uma homenagem ao humorista Paulo Gustavo, teve problemas na avenida e foi rebaixada para a Série Ouro.
Com G1 e Liesa
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